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Posts Tagged ‘Mr. Peanut’

Livros lidos:
“O Sentido de um Fim” (The Sense of an Ending), Julian Barnes – Rocco
“A Garota de Papel” (La Fille de Papier), Guillaume Musso – Versus
“A Visita Cruel do Tempo” (A Visit from the Goon Squad), Jennifer Egan – Intrínseca
 “A Trama do Casamento” (The Marriage Plot), Jeffrey Eugenides – Companhia das Letras
 “Onze” (Eleven), Mark Watson – Rai
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Lendo:
– “Savages”, Don Winslow
– “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust
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Livros comprados (e na fila):
“O Torreão”, Jennifer Egan
 “O Prisioneiro do Ceu”, Carlos Ruiz Zafon
 “Mr. Peanut”, Adam Ross
“O Livro das Coisas Perdidas”, John Connolly
“Fantasma Sai de Cena”, Philip Roth (presente)

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Fazia tempo que eu não escrevia sobre os (muitos) livros que ando lendo – acabei apenas comentando rapidinho sobre eles no Twitter, que é mais prático e direto. Mas li tanta coisa boa que achei que eles mereciam textos mais aprofundados.

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Começo com o ganhador do prêmio Pulitzer de 2011, o maravilhoso “A Visita Cruel do Tempo”, da americana Jennifer Egan – autora, aliás, que era inédita no Brasil mas que já teve logo depois um dos seus primeiros trabalhos recém-lançado aqui (“O Torreão”) e que estará semana que vem na FLIP (Festa Literária de Parati). Não dá pra comparar o estilo dela com ninguém – linguagem ágil, referências pop, muitos personagens e cada capítulo focado e às vezes narrado por um deles – e o que nas mãos de alguém menos talentoso poderia se tornar confuso, nas dela se transforma em trunfo, fazendo com que o leitor se envolva com os personagens e fique torcendo pra que eles voltem a aparecer logo. Cada capítulo tem um estilo diferente – um deles é composto pelos slides de uma apresentação em Power Point. A história vai e volta tanto no tempo quanto no lugar, e acompanhamos dezenas de personagens (os mais recorrentes e quase protagonistas são um executivo da indústria fonográfica e uma assistente dele) que interagem uns com os outros em diversos momentos de suas vidas e em lugares que vão de Nova York a Los Angeles e chegam até a África. Leitura recomendada para todo tipo de leitor.

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“A Visita…” ganhou o Pulitzer em 2011, mas foi lançado em 2010. Recentemente, porém, as editoras brasileiras publicaram três dos mais aclamados e premiados romances do ano passado, praticamente ao mesmo tempo. Um deles, “Mr. Peanut”, de Adam Ross, eu acabei de comprar e ainda não li. Mas os outros dois são deliciosos e conseguem ser ao mesmo tempo semelhantes e completamente diferentes. “A Trama do Casamento” foi escrito pelo americano Jeffrey Eugenides, mesmo autor de “As Virgens Suicidas” (muito bem adaptado pro cinema pela Sofia Coppola alguns anos atrás) e do ganhador do Pulitzer 2003 “Middlesex”, e é leitura obrigatória pra quem acabou de sair da faculdade e não sabe muito bem o que fazer da vida – ou pra quem simplesmente não sabe o que fazer da vida (ou já passou por isso). O livro se passa no início dos anos 80 e foca em três personagens que podem (ou não) formar um triângulo amoroso, e cada longo capítulo é centrado em um deles, com os outros dois aparecendo como coadjuvantes. Começando no dia da formatura, acompanhamos a trajetória de Madeleine, de família classe média alta e extremamente culta (e um tanto esnobe); Mitchell, descendente de gregos e também de classe média; e Leonard, de nível social inferior e família complicada, mas extremante inteligente e carismático. Os três se conhecem na faculdade, Madeleine e Mitchell se tornam melhores amigos e ele é apaixonado por ela de um modo praticamente platônico, principalmente depois que ela começa a namorar Leonard. Nenhum dos três sabe muito bem o que quer da vida – talvez Leonard até saiba, mas acontecimentos que fogem do controle dele tornam essa consciência mais nebulosa. E enquanto Madeleine e Leonard decidem experimentar o que acontece juntos, Mitchell parte com um amigo em uma viagem de auto-conhecimento primeiro pela Europa e depois pela Índia. Contar mais vai estragar o prazer do leitor, mas basta dizer que o livro fala de literatura vitoriana, religião, biologia, doenças mentais, tem quase 500 páginas que são devoradas porque não dá pra não querer saber o que vai acontecer com os três, e um final que consegue ser ao mesmo tempo triste e otimista.

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“O Sentido de um Fim”, do inglês Julian Barnes, também trata, ainda que de um modo meio torto, do tema “o que fazer após a faculdade”, mas vai além: “o que fazer da vida?”. A trama na verdade começa no colégio, com três amigos que se consideram intelectualmente superiores aos colegas e formam uma “panelinha” de três, que se torna um quarteto quando entra na escola um aluno novo com perfil parecido ao deles – e que eles passam a praticamente idolatrar. Após a formatura do colégio cada um segue um caminho, e a partir daí o narrador (um dos quatro) passa a contar o que aconteceu com ele mesmo (estudos, amores, trabalho) e os poucos momentos em que todos conseguiram se reencontrar. O interessante é que o livro, bem curto, por sinal (cerca de 150 páginas), é dividido em duas partes que são bem diferentes uma da outra: se a primeira é o típico relato de um jovem contando suas desventuras, sozinho ou ao lado dos amigos, e que pode até ser considerado um otimista, a segunda é uma melancólica visão de um homem de sessenta anos na Inglaterra contemporânea que percebe que jamais atingiu seu potencial e não fez nada de mais com sua vida, ao mesmo tempo em que começa a descobrir diversas coisas sobre si mesmo e sobre as pessoas que o rodearam – com direito a um certo mistério e a um final enigmático. Brilhante.

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Finalmente, os outros dois livros que eu li neste período não têm o mesmo pedigree dos três acima, mas são tão bons quanto. “A Garota de Papel”, do francês Guillaume Musso (um dos autores mais populares da atualidade na França), pode até ter alguns clichês, mas sabe aproveitar a onda de trilogias sobre seres sobrenaturais para contar uma história criativa e envolvente e, o melhor, sem precisar recorrer a vampiros, anjos, demônios e lobisomens entre os seus personagens. Um escritor se torna popstar com uma série de livros sobre anjos que faz um enorme sucesso, mas entra em crise ao ser abandonado pela namorada cantora de ópera e não consegue escrever o último volume da trilogia. Arruinado física e financeiramente, um dia ele se depara com uma linda mulher nua em sua sala, que alega ser uma das personagens que ele mesmo criou – ela diz que vai ajudá-lo a reconquistar a ex se ele se comprometer a terminar o livro. Será que ela é louca, ou quem sabe ele mesmo esteja ficando maluco? Recheado de referências a outros livros, “A Garota…” é tão bem escrito que não dá pra parar de ler – e parece prontinho pra uma adaptação pro cinema, com cenas em Hollywood, Paris e Roma (e que na minha cabeça poderia muito bem ser estrelada por Mark Ruffalo, Olivia Wilde, Ludivine Sagnier, Matthew McConaughey e Jennifer Esposito).

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“Onze” foi escrito pelo comediante britânico Mark Watson, mas passa longe do que se esperaria da obra de alguém especializado em fazer programas de sketches e stand-up comedy: é profundo, comovente e surpreendente – digno de um Nick Hornby ou de um Tony Parsons. O número do título representa o número de personagens que se interligam em algum momento da trama, mas o protagonista da história (e em volta de quem a trama gira) é um radialista de Londres que apresenta um programa de conselhos sentimentais para almas solitárias na madrugada. Ele parece um cara alegre e bem resolvido, mas esconde um segredo em seu passado que o fez deixar sua Austrália natal e recomeçar a vida na Inglaterra – e tente segurar as lágrimas quando ele revela o que aconteceu. Isso e outras coisas nós, leitores, vamos descobrindo aos poucos, conforme ele vai se envolvendo com diversos outros personagens – colegas da rádio, ouvintes, vizinhos, pessoas que ele conhece em uma sessão de speed dating, entre outros.  Enfim, um livro tão bom que eu pretendo transformar em peça – isso se alguém não tiver a mesma ideia antes.

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Fico por aqui, lendo “Savages”, que acaba de ser adaptado pro cinema pelo Oliver Stone, e tentando terminar o primeiro volume do clássico de Proust “Em Busca do Tempo Perdido”, o que confesso não está sendo nada fácil. Prometo voltar com esta coluna pelo menos uma vez por mês – enquanto isso fiquem atentos aos meus comentários mais sucintos no Twitter.

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