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Posts Tagged ‘nick hornby’

Livros lidos:
“O Sentido de um Fim” (The Sense of an Ending), Julian Barnes – Rocco
“A Garota de Papel” (La Fille de Papier), Guillaume Musso – Versus
“A Visita Cruel do Tempo” (A Visit from the Goon Squad), Jennifer Egan – Intrínseca
 “A Trama do Casamento” (The Marriage Plot), Jeffrey Eugenides – Companhia das Letras
 “Onze” (Eleven), Mark Watson – Rai
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Lendo:
– “Savages”, Don Winslow
– “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust
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Livros comprados (e na fila):
“O Torreão”, Jennifer Egan
 “O Prisioneiro do Ceu”, Carlos Ruiz Zafon
 “Mr. Peanut”, Adam Ross
“O Livro das Coisas Perdidas”, John Connolly
“Fantasma Sai de Cena”, Philip Roth (presente)

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Fazia tempo que eu não escrevia sobre os (muitos) livros que ando lendo – acabei apenas comentando rapidinho sobre eles no Twitter, que é mais prático e direto. Mas li tanta coisa boa que achei que eles mereciam textos mais aprofundados.

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Começo com o ganhador do prêmio Pulitzer de 2011, o maravilhoso “A Visita Cruel do Tempo”, da americana Jennifer Egan – autora, aliás, que era inédita no Brasil mas que já teve logo depois um dos seus primeiros trabalhos recém-lançado aqui (“O Torreão”) e que estará semana que vem na FLIP (Festa Literária de Parati). Não dá pra comparar o estilo dela com ninguém – linguagem ágil, referências pop, muitos personagens e cada capítulo focado e às vezes narrado por um deles – e o que nas mãos de alguém menos talentoso poderia se tornar confuso, nas dela se transforma em trunfo, fazendo com que o leitor se envolva com os personagens e fique torcendo pra que eles voltem a aparecer logo. Cada capítulo tem um estilo diferente – um deles é composto pelos slides de uma apresentação em Power Point. A história vai e volta tanto no tempo quanto no lugar, e acompanhamos dezenas de personagens (os mais recorrentes e quase protagonistas são um executivo da indústria fonográfica e uma assistente dele) que interagem uns com os outros em diversos momentos de suas vidas e em lugares que vão de Nova York a Los Angeles e chegam até a África. Leitura recomendada para todo tipo de leitor.

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“A Visita…” ganhou o Pulitzer em 2011, mas foi lançado em 2010. Recentemente, porém, as editoras brasileiras publicaram três dos mais aclamados e premiados romances do ano passado, praticamente ao mesmo tempo. Um deles, “Mr. Peanut”, de Adam Ross, eu acabei de comprar e ainda não li. Mas os outros dois são deliciosos e conseguem ser ao mesmo tempo semelhantes e completamente diferentes. “A Trama do Casamento” foi escrito pelo americano Jeffrey Eugenides, mesmo autor de “As Virgens Suicidas” (muito bem adaptado pro cinema pela Sofia Coppola alguns anos atrás) e do ganhador do Pulitzer 2003 “Middlesex”, e é leitura obrigatória pra quem acabou de sair da faculdade e não sabe muito bem o que fazer da vida – ou pra quem simplesmente não sabe o que fazer da vida (ou já passou por isso). O livro se passa no início dos anos 80 e foca em três personagens que podem (ou não) formar um triângulo amoroso, e cada longo capítulo é centrado em um deles, com os outros dois aparecendo como coadjuvantes. Começando no dia da formatura, acompanhamos a trajetória de Madeleine, de família classe média alta e extremamente culta (e um tanto esnobe); Mitchell, descendente de gregos e também de classe média; e Leonard, de nível social inferior e família complicada, mas extremante inteligente e carismático. Os três se conhecem na faculdade, Madeleine e Mitchell se tornam melhores amigos e ele é apaixonado por ela de um modo praticamente platônico, principalmente depois que ela começa a namorar Leonard. Nenhum dos três sabe muito bem o que quer da vida – talvez Leonard até saiba, mas acontecimentos que fogem do controle dele tornam essa consciência mais nebulosa. E enquanto Madeleine e Leonard decidem experimentar o que acontece juntos, Mitchell parte com um amigo em uma viagem de auto-conhecimento primeiro pela Europa e depois pela Índia. Contar mais vai estragar o prazer do leitor, mas basta dizer que o livro fala de literatura vitoriana, religião, biologia, doenças mentais, tem quase 500 páginas que são devoradas porque não dá pra não querer saber o que vai acontecer com os três, e um final que consegue ser ao mesmo tempo triste e otimista.

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“O Sentido de um Fim”, do inglês Julian Barnes, também trata, ainda que de um modo meio torto, do tema “o que fazer após a faculdade”, mas vai além: “o que fazer da vida?”. A trama na verdade começa no colégio, com três amigos que se consideram intelectualmente superiores aos colegas e formam uma “panelinha” de três, que se torna um quarteto quando entra na escola um aluno novo com perfil parecido ao deles – e que eles passam a praticamente idolatrar. Após a formatura do colégio cada um segue um caminho, e a partir daí o narrador (um dos quatro) passa a contar o que aconteceu com ele mesmo (estudos, amores, trabalho) e os poucos momentos em que todos conseguiram se reencontrar. O interessante é que o livro, bem curto, por sinal (cerca de 150 páginas), é dividido em duas partes que são bem diferentes uma da outra: se a primeira é o típico relato de um jovem contando suas desventuras, sozinho ou ao lado dos amigos, e que pode até ser considerado um otimista, a segunda é uma melancólica visão de um homem de sessenta anos na Inglaterra contemporânea que percebe que jamais atingiu seu potencial e não fez nada de mais com sua vida, ao mesmo tempo em que começa a descobrir diversas coisas sobre si mesmo e sobre as pessoas que o rodearam – com direito a um certo mistério e a um final enigmático. Brilhante.

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Finalmente, os outros dois livros que eu li neste período não têm o mesmo pedigree dos três acima, mas são tão bons quanto. “A Garota de Papel”, do francês Guillaume Musso (um dos autores mais populares da atualidade na França), pode até ter alguns clichês, mas sabe aproveitar a onda de trilogias sobre seres sobrenaturais para contar uma história criativa e envolvente e, o melhor, sem precisar recorrer a vampiros, anjos, demônios e lobisomens entre os seus personagens. Um escritor se torna popstar com uma série de livros sobre anjos que faz um enorme sucesso, mas entra em crise ao ser abandonado pela namorada cantora de ópera e não consegue escrever o último volume da trilogia. Arruinado física e financeiramente, um dia ele se depara com uma linda mulher nua em sua sala, que alega ser uma das personagens que ele mesmo criou – ela diz que vai ajudá-lo a reconquistar a ex se ele se comprometer a terminar o livro. Será que ela é louca, ou quem sabe ele mesmo esteja ficando maluco? Recheado de referências a outros livros, “A Garota…” é tão bem escrito que não dá pra parar de ler – e parece prontinho pra uma adaptação pro cinema, com cenas em Hollywood, Paris e Roma (e que na minha cabeça poderia muito bem ser estrelada por Mark Ruffalo, Olivia Wilde, Ludivine Sagnier, Matthew McConaughey e Jennifer Esposito).

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“Onze” foi escrito pelo comediante britânico Mark Watson, mas passa longe do que se esperaria da obra de alguém especializado em fazer programas de sketches e stand-up comedy: é profundo, comovente e surpreendente – digno de um Nick Hornby ou de um Tony Parsons. O número do título representa o número de personagens que se interligam em algum momento da trama, mas o protagonista da história (e em volta de quem a trama gira) é um radialista de Londres que apresenta um programa de conselhos sentimentais para almas solitárias na madrugada. Ele parece um cara alegre e bem resolvido, mas esconde um segredo em seu passado que o fez deixar sua Austrália natal e recomeçar a vida na Inglaterra – e tente segurar as lágrimas quando ele revela o que aconteceu. Isso e outras coisas nós, leitores, vamos descobrindo aos poucos, conforme ele vai se envolvendo com diversos outros personagens – colegas da rádio, ouvintes, vizinhos, pessoas que ele conhece em uma sessão de speed dating, entre outros.  Enfim, um livro tão bom que eu pretendo transformar em peça – isso se alguém não tiver a mesma ideia antes.

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Fico por aqui, lendo “Savages”, que acaba de ser adaptado pro cinema pelo Oliver Stone, e tentando terminar o primeiro volume do clássico de Proust “Em Busca do Tempo Perdido”, o que confesso não está sendo nada fácil. Prometo voltar com esta coluna pelo menos uma vez por mês – enquanto isso fiquem atentos aos meus comentários mais sucintos no Twitter.

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Só depois de mais de uma década de sucessos e prestígio é possível se fazer um espetáculo de três horas de duração em que os atores (só dois, diga-se de passagem*) passam boa parte do tempo ouvindo música. Mas isso é só um dos fatores que tornam “Trilhas Sonoras de Amor Perdidas” irresistível. A peça, uma produção da Sutil Cia. de Teatro dirigida por Felipe Hirsh, é praticamente um musical em que ninguém canta. É a segunda parte de uma provável trilogia iniciada pelo primeiro grande sucesso do grupo, “A Vida É Cheia de Som e Fúria”, uma adaptação do livro “Alta Fidelidade”, do inglês Nick Hornby. Traz um inspiradíssimo Guilherme Webber no papel de um DJ e colunista de música que nos conta a história do romance dele com Soninho (sim, isso não é um erro de digitação, é SoninhO, e não SoninhA), embalado pelas músicas que desde sempre são gravadas em “mixtapes” ou “discos gravados” – aquelas compilações que todo mundo fez e faz a vida toda com “músicas pra dançar”, “músicas pra relaxar”, “músicas que marcaram as nossas vidas”, e assim por diante. E quando estamos envolvidos e nos divertindo com o romance, as histórias, as músicas (o que se deve não só a Webber, mas à presença  encantadora de Natalia Lage, que faz a Soninho), a peça tem uma reviravolta (talvez previsível, talvez não, mas que é melhor não ser mencionada) e se torna emocionante – e aí, no segundo ato, é bom ter lencinhos de papel à mão (fica a dica).

Enfim, eu, se fosse vocês, não perderia a peça por nada. Ela fica em cartaz até o dia 31/7, no SESC Belenzinho, sábados às 20h e domingos às 18h. E se o Guilherme Webber não ganhar todos os prêmios de melhor ator do ano, podem demitir todos os jurados.

(*) A peça tem mais duas atrizes em participações especiais que são praticamente pontinhas, ainda que bastante importantes.

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Livros comprados:
–          “Amsterdam” (Ian McEwan)
–          “Then We Came to the End” (Joshua Ferris)
–          “The Unnamed” (Joshua Ferris)
–          “Invisible” (Paul Auster)
–          “My Name Is Will” (Jess Winfield)
–          “Little Vampire Women” (Louisa May Alcott & Lynn Messina)
–          “Cidadão Cannes” (Gilles Jacob)
–          “Peeps” (Scott Westerfeld)
–          “The Last Days” (Scott Westerfeld)
–          “Uglies” (Scott Westerfeld)
–          “The Luxe” (Anna Godbersen)
 
Livros lidos:
–          “Amsterdam” (Ian McEwan)
–          “Pride/Prejudice” (Ann Herenden) – não concluído
–          “Orgulho e Preconceito” (Jane Austen)

 

Em sua antiga coluna sobre literatura na revista The Believer, Nick Hornby diversas vezes se desculpava por não ter lido muitos livros em determinado período e botava a culpa no futebol – por ser fanático pelo esporte, ele acabava gastando boa parte do seu tempo em frente à TV, principalmente nas fases decisivas do campeonato inglês. Longe de querer me comparar a ele, vou usar a mesma desculpa esse mês. Mesmo não sendo exatamente um fanático por futebol (acompanho os jogos do meu time, torço bastante, mas raramente deixo de fazer alguma coisa pra assistir um jogo), a Copa do Mundo acabou ocupando momentos em que eu normalmente estaria lendo e/ou escrevendo – por exemplo, durante o almoço e no meio da tarde. Logo, culpo a Copa por ter lido tão pouco entre junho e julho – ainda que isso não tenha me impedido de comprar muitos livros, haja vista a listinha acima.

 

Falando nas compras, alguns comentários. Descobri o autor Scott Westerfeld há quase dois anos, quando li o livro “Os Primeiros Dias”, que teoricamente fica na sessão de literatura juvenil das livrarias, mas que poderia perfeitamente estar nas prateleiras de adultos. O livro é tão bom que eu li quase metade dele na própria livraria e terminei em casa no dia seguinte – e, diga-se de passagem, foi um dos livros que me fizeram retomar o hábito de ler compulsivamente. É uma história de vampiros, mas bastante diferente dos Crepúsculos da vida (nada contra esses livros, aliás, dos quais eu também gosto bastante). Aqui, o vampirismo é causado por um vírus que é transmitido via relações sexuais (estão vendo como a classificação como livro juvenil é errada?) e o infectado aos poucos vai perdendo a condição humana, suas lembranças, e acaba por se tornar praticamente um bicho. Como algumas pessoas desenvolvem uma imunidade ao vírus quando infectadas, estas se tornam policiais, responsáveis por caçar os vampiros. O protagonista é um desses caçadores, que é obcecado por encontrar a sua “criadora”, uma vampira que curiosamente não sucumbiu aos sintomas tradicionais da doença, e uma namorada que ele mesmo infectou sem saber. Gostei tanto do livro que comprei agora a edição original em inglês, cujo título é “Peeps” (o apelido pelo qual os infectados são conhecidos). Como o livro fez sucesso, previsivelmente foi lançada uma sequência, “Os Últimos Dias” (ou “The Last Days”); porém, não previsivelmente, a continuação não mostra os mesmos personagens do original algum tempo depois, como se esperaria de uma sequência, mas sim personagens diferentes, um grupo de jovens que se junta pra formar uma banda, ao mesmo tempo em que a doença começa a se alastrar – curiosamente, cada capítulo do livro tem o nome de uma banda obscura admirada pelo autor. Westerfeld lançou depois uma nova série de sucesso, do qual o primeiro livro é “Uglies”, lançado recentemente em português como “Feios”. Como esse eu ainda não li, falo sobre ele em outra ocasião.

 

Um tempinho atrás eu falei de uma nova febre que começou no ano passado no mundo literário, os “mash-ups” de grandes clássicos com histórias de terror e/ou ficção-científica. Tudo teve início com o sucesso de “Pride and Prejudice and Zombies”, que coloca o romance de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy em meio a uma epidemia que transforma as pessoas em zumbis na Inglaterra (este eu comprei, mas ainda não li). Depois vieram “Sense and Sensibility and Sea Monsters” (também baseado em obra de Jane Austen), “Abraham Lincoln: Vampire Hunter” (com o presidente dos EUA caçando vampiros), “Dawn of the Undead” (uma sequência para a história dos zumbis), “Jane Slayre” (em que a heroína de Emily Brönte também é uma caçadora de vampiros), “Eu, Vampira” (no qual a própria Jane Austen vira uma dentuça) e o mais recente “Android Karenina” (com a mocinha de Tolstoi como um robô). Dentre todas as “novidades”, eu escolhi “Little Vampire Women”, que transforma as “Adoráveis Mulheres” de Louisa May Alcott em vampiras. Será uma bomba ou será que a criatividade funciona? O veredicto na próxima coluna (hopefully…).

 

Já que mencionei a inglesa Jane Austen, passo para o assunto seguinte. Como estou preparando uma adaptação teatral para “Orgulho e Preconceito”, reli a obra original e aproveitei pra ler uma nova versão que foi lançada recentemente, “Pride/Prejudice”, de Ann Herendeen. O novo livro pretende contar a mesma história, porém focando em aspectos que não são mostrados no original. Estava bastante empolgado para lê-lo, mas confesso que já estou com um nó na garganta e não sei se conseguirei ler até o final; logo no primeiro capítulo a autora sugere de forma um tanto explícita que a relação de amizade entre Darcy e Charles Bingley na verdade escondia um romance carnal entre os dois, e que Darcy se apaixonou por Elizabeth por ela ter características raramente encontradas nas mulheres da época. Não quero chegar ao ponto de dizer que isso é uma heresia, mas tenho que admitir que fiquei um pouco chocado. Variação por variação, talvez seja melhor ficar com os zumbis.

 

Por fim, o grande livro do mês e que eu recomendo é “Amsterdam”, do inglês Ian McEwan (mais conhecido aqui por “Atonement”, que virou o filme “Desejo e Reparação”, indicado ao Oscar em 2007 – o livro em português se chama simplesmente “Reparação”). “Amsterdam” conta a história de três homens que em algum momento de suas vidas se envolveram com a mesma mulher, e cuja morte abre o livro e os reúne. Dois deles, Vernon, jornalista e editor de um jornal em decadência, e Clive, compositor conceituado em busca da obra que o tornará imortal, são grandes amigos. O outro, Julian, é um político de prestígio que está em vias de se candidatar ao cargo de Primeiro-Ministro, e que os outros dois odeiam. A morte da amante (que sofreu de uma doença degenerativa que a deixou praticamente inválida nos últimos momentos) faz com que os amigos façam um pacto um tanto quanto sinistro; logo em seguida, surgem documentos que podem prejudicar o terceiro (o político), mas cuja utilização é vista por ambos de forma oposta. A história se desenrola daí, com Vernon tentando elevar as vendas do seu jornal a qualquer custo e Clive buscando inspiração para compor a sinfonia que será utilizada na abertura do Millenium Dome (o complexo gigantesco que foi inaugurado em Londres na virada do século XX para o XXI). O mais legal é que McEwan trata de temas que poderiam ficar maçantes, como os meandros do jornalismo e detalhes técnicos da música, com tal leveza que não dá nem pra perceber que se está lendo sobre assuntos complexos. E o suspense vai aumentando até culminar em uma sequência final que acontece justamente na cidade-título. Não é à toa que o livro foi um grande sucesso, ganhou o Booker Prize e é considerado um clássico moderno.

 

Fico por aqui, prometendo não demorar tanto pra escrever a próxima “coluna literária” (quanta pretensão…) e informando que devo finalmente ler o segundo livro da série Millenium, do sueco Stieg Larsson, agora que vi o primeiro filme (aliás, um filmaço que merece um texto só pra ele).

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(originalmente publicado em 10/12/2009)

Livros comprados:
– The Magicians (Lev Grossman)
– A Menina que Brincava com Fogo (Stieg Larsson)
– A Rainha do Castelo de Ar (Stieg Larsson)
– Shakespeare Wrote For Money (Nick Hornby)
– Juliet, Naked (Nick Hornby)
– An Education (Nick Hornby)
– Pride and Prejudice and Zombies (Jane Austen/Seth Grahame-Smith)
– The Book of Dave (Will Self)
– Lush Life (Richard Price)
– Peeps (Scott Westerfeld)
– Mere Anarchy (Woody Allen)
Livros lidos:
– Beber, Jogar, F@#er (Andrew Gottlieb)
– Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Stieg Larsson)
– Shakespeare Wrote For Money (Nick Hornby)
– An Education (Nick Hornby)
– Lua Nova (Stephenie Meyer)
– Formaturas Infernais (vários autores)
– The Book of Dave (Will Self) – não concluído
– The Magicians (Lev Grossman) – não concluído

 

Essa semana eu estava em um ônibus e notei que o cobrador lia nada menos que “Crime e Castigo”, do Dostoievski. Achei o máximo. Mas ao mesmo tempo também fiquei envergonhado, já que nunca li este livro (embora já tenha pensado em lê-lo diversas vezes), nem inúmeros outros clássicos da literatura mundial. Eu me orgulho de ser um leitor quase compulsivo (dá pra notar pelas minhas listas de livros comprados), mas se parar pra pensar em quantos “clássicos da literatura mundial” eu li, provavelmente não preencherei os dedos das duas mãos. Vejamos: “A Christmas Carol”, do Charles Dickens (que é um conto, então vale por meio)… “Os Três Mosqueteiros”, do Alexandre Dumas… “Alice no País das Maravilhas”, do Lewis Carroll (esse eu li várias vezes, então pode até contar por dois)… Algumas peças do Shakespeare e do Oscar Wilde… ”O Médico e o Monstro”, do Robert Louis Stevenson… Ah, eu li “Hamlet”, “Moby Dick”, “Grandes Esperanças”, “O Morro dos Ventos Uivantes” e outros em quadrinhos, numa coleção fantástica que a Abril lançou há séculos e que eu guardo até hoje (alguém lembra?)… Fora isso, acho que só alguns clássicos brasileiros, daqueles que a gente é obrigado a ler na escola e que raramente gosta, justamente por ser obrigação (se bem que eu acho que o único livro escolar que eu realmente odiei foi “Iracema”). É, acho que tá na hora de parar de ler só literatura pop moderna e partir pra uma jornada pelos clássicos. Ano que vem, prometo.

 

Enquanto isso, vou falar um pouco do que ando lendo efetivamente. Deu pra notar que a lista de livros comprados está bem maior do que deveria. Claro que o fato de eu ter ficado um tempão sem escrever aqui ajudou a acumular muita coisa, mas eu confesso que tenho andado um pouco mais compulsivo que o normal (e o fato de dar aula todos os dias da semana ao lado dos shoppings Morumbi e Market Place não colabora muito, já que ambos concentram os três grandes templos do consumismo literário, musical e cinematográfico da cidade: Livraria Cultura, Saraiva Mega Store e FNAC). De qualquer forma, seria bom ter tempo pra ler tudo, o que é humanamente impossível, então é melhor eu dar uma maneirada mesmo (ou então arrumar alguém que me dê os livros de graça – alguém?).

 

Comprei três livros do Nick Hornby neste período. Um deles, “Juliet, Naked”, é o mais recente e eu ainda não consegui ler (falei sobre ele alguns textos atrás e falarei depois que o ler). O segundo é o roteiro do filme “An Education”, aquele que ganhou título em português de “Sedução” e que eu assisti na Mostra e que é ótimo e que deve concorrer ao Oscar e que já começou a ganhar alguns prêmios por aí (de novo, vejam textos anteriores sobre isso). Além do roteiro em si, Hornby conta no livro como foi o processo de transformar a obra original em um filme (o roteiro é baseado nas memórias escritas por Lynn Barber pra revista Granta e a personagem principal do filme é baseada nela), desde convencer alguém a produzi-lo, adaptar o roteiro, achar o elenco certo, as filmagens, a passagem do filme pelo festival de Sundance. De quebra, ainda tem um epílogo que acabou não entrando na versão final do filme. Por fim, o terceiro, “Shakespeare Wrote For Money”, é a segunda e última compilação dos textos que ele escreveu pra revista Believer em 2006 e 2007, e que inspiraram este blog.

 

Continuando nos autores que se repetem na lista, todo mundo já deve ter visto nas livrarias, mesmo de relance, uma série de livros de capa preta cobertas com chamas alaranjadas. Trata-se da trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson, que anda fazendo um baita sucesso no mundo todo, e por aqui não é diferente. Eu comprei o primeiro deles, “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, um tempinho atrás, comecei a ler na época (mais precisamente em agosto), mas parei (não por não estar gostando, mas porque eu tenho o péssimo hábito de ler vários livros ao mesmo tempo e eventualmente algum acaba prejudicado). Retomei agora e não sei como conseguir parar na primeira vez. Na verdade eu provavelmente não tinha chegado ao “point of no return”, que é aquele trecho de um livro em que ele te fisga de tal maneira que você não consegue mais parar de ler até terminá-lo. Esse ponto varia de livro pra livro; raramente é no começo, às vezes é na metade, normalmente é só mais perto do final (e claro que um livro pode nem ter esse ponto, o que provavelmente significa que ele não é lá essas coisas). Neste caso, o “point of no return” é um pouco antes da metade. O protagonista é um jornalista que cobre o mundo financeiro e é editor de uma revista, a Millenium do título; no início do livro ele está sendo processado por um magnata a quem acusou de corrupção, e por causa disso acaba obrigado a se afastar da revista por uns tempos. Como não tem nada pra fazer, ele topa escrever a biografia de uma das famílias mais poderosas da Suécia e ao mesmo tempo investigar o desaparecimento de uma garota ocorrido mais de quarenta anos atrás. Paralelamente, há uma outra protagonista, uma hacker de vinte e poucos anos e um tanto esquisita que trabalha pra uma empresa de segurança esmiuçando a vida dos outros. Logicamente em um determinado momento do livro as trajetórias dos dois personagens se encontram e eles passam a trabalhar juntos. Contar mais vai estragar, mas basta dizer que o livro tem ação, suspense, sexo, violência, personagens marcantes, enfim, tudo que uma boa história precisa (e deve) ter. E as sequências não devem ser diferentes. Curiosidades: o autor morreu logo depois de publicação do terceiro livro em seu país natal, aos cinqüenta e pouco anos. O primeiro livro já tem uma versão cinematográfica, produzida na Suécia, e que passou aqui na Mostra de Cinema de São Paulo deste ano (eu tentei assistir, mas a sessão do dia foi cancelada e eu acabei não conseguindo ir a outra). Mas não estranhem se logo mais pintar a versão americana.

 

Outro sucesso literário que todo mundo certamente no mínimo ouviu falar foi “Comer, Rezar, Amar”, em que a autora Elizabeth Gilbert conta a jornada espiritual que viveu na Índia, Tibet e afins (e que, adivinhem, vai virar filme no ano que vem com ninguém menos que Julia Roberts no papel principal). Bom, Andrew Gottlieb, roteirista da TV americana, resolveu criar uma quase sátira ao outro livro, e escreveu “Beber, Jogar, F@#%r” (sim, a última palavra é exatamente o que você está pensando). Nele, o protagonista, depois de levar um pé na bunda da esposa, resolve largar o empregão em Wall Street e se jogar em uma jornada de um ano pelo mundo dos prazeres. Passa quatro meses na Irlanda enchendo a lata, depois vai pra Las Vegas torrar a grana nos mega-cassinos e por fim vai pra Tailândia se esbaldar com você sabe o que. Esse é daqueles livros em que o “point of no return” (vide parágrafo anterior) é logo no começo, ou seja, eu o li praticamente de uma vez só. O único porém é que o final é um pouco meloso e “clichesíssimo”, mas não chega a estragar a delícia que é ler o livro.

 

E já que estou falando em fenômenos literários, não há como não falar esse mês da série “Crepúsculo”. Eu li o primeiro livro logo que ele foi lançado, ainda em inglês (ou seja, bem antes do filme). Achei interessante, descobri que fariam o filme, então decidi esperar pra ler as continuações. Veio o primeiro filme no ano passado, achei bacaninha e comecei a ler o segundo livro, “Lua Nova”. Parei no quinto capítulo, mais ou menos – muita lenga lenga pro meu gosto. Só que eu não queria assistir o filme novo sem ler o livro antes, então decidi enfrentá-lo mais uma vez. Dessa vez foi mais fácil, afinal eu já sabia que o tal do Jacob viraria um lobisomem, que o Edward iria a Veneza enfrentar outros vampiros – mas mesmo assim demorei pra chegar ao fim. Então fui ao cinema e – SURPRESA! O filme dá um banho no livro, tem muito mais ritmo, não perde tempo com o suplício da protagonista Bella; pode não ter as cenas belas e poéticas do primeiro filme, mas é bem mais coeso e amarrado – claro que ajuda o fato de não precisar introduzir os personagens -, sem falar que a produção é muito superior (já que dessa vez havia grana a rodo pra fazer o que bem entendessem). Deu até vontade de arriscar o terceiro livro, “Eclipse”, que chega aos cinemas no meio do ano que vem. Vai entrar na fila.

 

Ah, e ainda na onda vampiresca, li também a coletânea de contos “Formaturas Infernais” – cujo título original, “Prom Nights From Hell”, é bem mais divertido. São cinco contos de autoras da moda: vai da própria Stephenie Meyer da série “Crepúsculo” até a veterana Meg Cabot (dos “Diários da Princesa” e outros clássicos da literatura teen). O livro tem altos e baixos, mas um dos contos é tão bacana que eu até transformei em uma peça – “The Corsage”, de Lauren Myracle, sobre uma menina que visita uma cartomante pra saber se o menino de quem gosta a convidará ao baile de formatura e acaba achando um “corsage” (aquele arranjo de flores que os meninos dão pras meninas nesses bailes) que realiza desejos.

 

Bom, fico por aqui porque senão nunca vou publicar este texto. Até a próxima.

 

P.S.: Pra quem ficou curioso com o título “Pride and Prejudice and Zombies”, eu explico: alguém teve a idéia de misturar Jane Austen e monstros, por algum motivo isso deu certo, e agora virou moda. Já existe também “Sense and Sensibility and Sea Monsters”. Como ainda não li nenhum dos dois, não posso dizer se a bizarrice funciona ou não. Mas aguardem as próximas colunas (aliás, acabei de ler aqui que a versão cinematográfica dos zumbis já está a caminho, com Natalie Portman no papel principal).

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Começou sexta passada mais uma edição da tradicional Mostra de Cinema de São Paulo, a 33ª. Todo ano eu digo a mim mesmo que vou assistir um monte de filmes, me programo pra ver vários (marco os horários no guia e tudo) e no fim acabo não vendo nada (ou praticamente nada). Até hoje eu assisti somente cinco filmes na Mostra: em 2000 eu ainda era advogado e trabalhava em um escritório nos Jardins, então escapei de lá mais cedo em duas tardes pra assistir “Psicopata Americano” (American Psycho, EUA, 2000, ****) e a versão modernizada de “Hamlet” (Hamlet, EUA, 2000, ***) no finado Cine Vitrine; no ano passado foi um grande progresso e eu consegui ver três, sendo dois até no mesmo dia: “O Casamento de Rachel” (Rachel Getting Married, EUA, 2008, ****), “A Duquesa” (The Duchess, ING, 2008, **1/2) e “Horas de Verão” (L´Heure D´Été, FRA, 2008, ****).

aneducationEsse ano eu como sempre já marquei vários que quero assistir, então vamos ver qual vai ser o saldo final. Hoje consegui ver o primeiro, “Sedução” (An Education, ING, 2009, ****), aquele filme com roteiro do Nick  Hornby de que eu falei alguns textos atrás. Fiquei muito feliz por conseguir assisti-lo, porque senão teria que esperar até fevereiro (quando está prevista a estréia comercial). E adorei – o filme é bonito, romântico, tem um elenco excepcional (e que deve render pelo menos uma indicação ao Oscar, pra gracinha Carey Mulligan – mas podem perfeitamente pintar indicações pra Peter Sarsgaard e Alfred Molina também). É um pouco previsível, o que nesse caso nem chega a ser um demérito, e tem um final que pode causar amor ou ódio (embora valha lembrar que nem tem muito pra discutir quanto ao final, já que o filme é baseado em um livro autobiográfico, ou seja, o fim é real). A trilha também é bacana (com uma música nova da Duffy tocando nos créditos finais) e é curioso ver  Hornby, sempre caracterizado por suas referências pop anos 90/2000, escrevendo um roteiro de época (o filme se passa nos anos 60).

Quem quiser saber mais sobre a história e outros detalhes (e ver o trailer), é só procurar aí embaixo o texto “A Volta do Padrinho”.

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O escritor inglês Nick Hornby, que é um dos meus autores preferidos e quase que um “padrinho” involuntário deste blog, tem duas novidades. A primeira delas é o livro “Juliet, Naked”, lançado no mês passado. Desta vez Hornby volta a escrever sob o ponto de vista de uma mulher, o que ele só havia feito antes uma vez, em “How to Be Good”. Annie, a protagonista, tem um namorado fanático por um roqueiro americano que há 20 anos sumiu do mapa e cujo disco mais famoso se chamava “Juliet”. Quando uma versão demo deste disco é lançada (daí o “Juliet, Naked” do título, tal qual o “Let It Be Naked” que chegou às lojas anos atrás, lembram?), o casal briga por ter opiniões diversas sobre a “novidade”. Aí, por manobras do destino, Annie e o músico acabam se tornando amigos. As críticas vem sendo boas, mas eu ainda não consegui encontrar o livro por aqui, e nem há previsão de lançamento da versão traduzida.

 

Além do livro, Hornby escreveu o roteiro de um filme britânico que estreia esta semana nos EUA. “An Education” conta a história de Jenny, uma menina de 16 anos que, na Inglaterra dos anos 60, se envolve com um homem bem mais velho, David, um playboy que a leva para conhecer as coisas boas da vida. Ela se encanta com o cara e com as coisas que ele apresenta a ela, mas depois acaba descobrindo que nem tudo é o que parece. Já se fala em indicação ao Oscar para a novata Carey Mulligan, que faz o papel principal, e o filme ainda tem o ótimo Peter Sarsgaard como David, além de Alfred Molina, Emma Thompson, Dominic Cooper e Rosamund Pike. Pena que o lançamento por aqui esteja previso somente para 19 de fevereiro.

 

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Livros comprados:

– Frenesi Polissilábico (Nick Hornby)
– O Clube do Filme (David Gilmour)
– Nick & Norah – Uma Noite de Amor e Música (Rachel Cohn & David Levithan)
 

Livros lidos:

– Frenesi Polissilábico (Nick Hornby)
– Harry Potter and the Deathly Hallows (J.K.Rowling)
– Leite Derramado (Chico Buarque) – abandonado
– Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Stieg Larsson) – não concluído
– O Clube do Filme (David Gilmour)
– Nick & Norah – Uma Noite de Amor e Música (Rachel Cohn & David Levithan)
 

DVDs comprados:

– Crimes e Pecados (Woody Allen)
– Memórias (Woody Allen)
– The Office UK – Série Completa
– Crepúsculo (Catherine Hardwicke)
– 007 Quantum of Solace (Marc Forster)
– Nick & Norah – Uma Noite de Amor e Música (Peter Solett)
– Hellboy 2 (Guillermo Del Toro)
– Matar ou Morrer (Fred Zinemann)
– Sindicato de Ladrões (Elia Kazan)

 

Filmes assistidos:

– Harry Potter e o Enigma do Príncipe (David Yates) – 2 vezes
– Nick & Norah – Uma Noite de Amor e Música (Peter Solett)
– Um Jogo de Vida ou Morte (Kenneth Branagh)
– Harry Potter e a Pedra Filosofal (Chris Columbus)
– Harry Potter e a Câmara Secreta (Chris Columbus)
– Harry Potter e o Prisioneiro de Azkhaban (Alfonso Cuarón)
– Harry Potter e o Cálice de Fogo (Mike Newell)
– Harry Potter e a Ordem da Fênix (David Yates)

 

Séries assistidas:

– Coupling UK – 1ª Temporada Completa

 

Sinto-me na obrigação de começar pelo livro que inspirou a minha volta ao blog, “Frenesi Polissilábico”, do inglês Nick Hornby. Como já disse na introdução, o livro é uma compilação das colunas literárias que ele escreveu para a revista “The Believer”– cada coluna dele não era sobre um livro específico, mas sim algo como eu estou tentando fazer aqui: comentários sobre os diversos livros lidos e/ou comprados no período (a coluna era normalmente mensal) e observações sobre a vida em geral (bastante futebol, no caso dele). Hornby, pra quem não conhece, é autor de grandes sucessos já adaptados para o cinema, como “Alta Fidelidade”, “Um Grande Garoto” e “Febre de Bola”, e outros que ainda existem somente em papel (“Como Ser Legal”, “Slam”e outros). Ele também escreve sobre música (se não me engano tinha uma coluna na Rolling Stone inglesa) e um outro livro dele, “39 Canções”, é uma compilação de textos sobre, obviamente, 39 das canções preferidas dele (foi esse livro, aliás, que me fez descobrir uma das bandas mais bacanas da história, a Teenage Fanclub). Enfim, os textos dele são tão bons que você se diverte mesmo não conhecendo os livros e autores de quem ele fala.

 

Uma coisa que deve ter chamado atenção nas listas acima é a overdose de Harry Potter. Fácil de explicar: antes de ver o filme novo no cinema, revi todos os DVDs anteriores (não o ideal, mas obviamente mais rápido que reler todos os livros). Até aqui o meu preferido ainda era o terceiro, “O Prisioneiro de Azkhaban”, mas nesta “revisão” eu gostei bastante do segundo, “A Câmara Secreta”(que antes era o que eu menos gostava), e principalmente do quinto, “A Ordem da Fênix”, que eu só tinha visto no cinema. Muito legal ver a evolução do elenco jovem e também como o clima vai se tornando cada vez mais sombrio a partir do terceiro filme, até chegar ao sexto, ainda em cartaz, e que pra mim é disparado o melhor da série (aliás, recomendo assistir o filme em salas com tecnologia 3D, já que os primeiros 13 minutos do filme foram rodados especialmente para estas salas, e o efeito é incrível). O diretor David Yates (veterano da TV inglesa que dirigiu o filme anterior e é também responsável pelos próximos) e o roteirista Steve Kloves (que escreveu os roteiros de todos os filmes da série, exceto “Fênix”) conseguiram harmonizar de forma admirável  as duas tendências da trama: de um lado, há os hormônios em ebulição dos adolescentes de Hogwarts (e dá-lhe flertes, climinhas, tensão sexual e ciúme por todos os lados); do outro, a tensão escalante que surge do reaparecimento de Lord Voldemort (embora ele mesmo não apareça, mas sim os seus asseclas, que fazem o diabo por Londres) e da conscientização de Harry de que cabe a ele combater o Mal, sob a orientação de seu mestre Dumbledore. Paralelamente a isso, acompanhamos a jornada de dois personagens que nunca tiveram tanto destaque quanto aqui: Draco Malfoy, escolhido por Voldemort para uma missão secreta dentro de Hogwarts, e Severus Snape, que segue cada vez mais ambíguo ao não revelar ao público se é um vilão disfarçado de mocinho ou o contrário. Ambos os personagens são valorizados por seus atores, já que Alan Rickman mais uma vez dá um show ao dar vida ao melhor personagem de toda a série (e que somente no sétimo livro revelará sua verdadeira face) e Tom Felton mostra ser o melhor dentre todos os jovens atores que começaram a série crianças e agora já são pós-adolescentes.

 

É claro que o filme não é tão bom quanto o livro. Faz tempo, aliás, que eu desisti de esperar fidelidade total de qualquer adaptação de livros (não só Harry Potter, mas qualquer livro). Afinal, cada filme nada mais é que a visão que o seu diretor e o seu roteirista tem de determinado livro, e não uma transposição exata do conteúdo deste. Além disso, é óbvio que não dá pra se colocar no filme tudo que está em um livro. Então qualquer pessoa que vá assistir uma adaptação esperando ver o seu livro preferido replicado nas telas exatamente como leu estará fadada à decepção. É por isso que um filme adaptado de um livro, pra ser devidamente apreciado, tem que ser encarado como uma obra completamente diferente da que o originou. E isso fica plenamente demonstrado em outra adaptação literária que eu assisti esses dias. O livro se chama “Como Perder Amigos e Alienar Pessoas”(How to Lose Friends and Alienate People), escrito pelo jornalista inglês Toby Young no início da década e lançado no Brasil há uns quatro anos. Conta de forma sarcástica e divertidíssima a jornada (real) dele no ano que passou em Nova York trabalhando como repórter de celebridades na badalada revista Vanity Fair. O detalhe é que em Londres ele era editor de uma revista que tirava sarro do mundinho VIP; então quando passa a fazer exatamente o oposto do que fazia ele acaba cometendo uma gafe atrás da outra e se metendo em várias confusões, até que finalmente toma jeito, pra no fim arruinar tudo novamente e ser execrado de volta para a Inglaterra.

 

Eu li este livro tempos atrás e até hoje é um dos meus preferidos. Da forma como foi escrito, parecia “infilmável”, como o próprio diretor do filme confessa no “making of” que vem como extra no DVD. Mas o fato é que um roteiro foi escrito e o filme foi feito. E quem for assisti-lo com o pensamento de que deve ser fidelíssimo ao livro certamente odiará o filme. Porém, se assistir tendo em mente que um livro é uma coisa e um filme é outra diferente, pode se divertir bastante. O título em português é bisonho: “Um Louco Apaixonado”(o livro foi lançado por aqui com a tradução literal do título original, mas algum gênio do marketing achou que o filme não “colaria” com o mesmo título – bem feito, porque com este nome genérico de Sessão da Tarde o filme passou batido nos cinemas). Tem um elenco de peso: o hilário Simon Pegg no papel principal, mais Kirsten Dunst, Jeff Bridges, Gillian Anderson e Megan Fox. E é uma agradável comédia quase-romântica com alguns clichês básicos e um senso de humor bastante sarcástico, tirando um certo sarro das celebridades hollywoodianas (não tanto quando o livro faz, mas já está valendo). Se fosse dar notas, daria cinco estrelas pro livro e três pro filme.

 

Ainda falando em adaptações, é a vez de “Nick & Norah – Uma Noite de Amor e Música”. Mais um filme que inexplicavelmente foi lançado diretamente em DVD por aqui, é baseado no livro publicado com o mesmo título por aqui e que no original se chama “Nick & Norah´s Infinite Playlist”. Teoricamente trata-se de uma obra para adolescentes, mas é possível que alguns pais não concordem muito com isso (já que há muitas menções a sexo, alguns palavrões, os colegas de banda do protagonista são gays). De qualquer forma, tanto filme quanto livro são fantásticos. Neste caso eu vi o filme antes de ler o livro, então a visão se torna um pouco diferente. É a história de dois adolescentes que se conhecem em um show de rock e passam por várias aventuras durante uma noite em Manhattan: Nick é baixista em uma banda e acabou de levar um fora da namorada; Norah é uma colega de classe da ex, que não o conhece pessoalmente, mas admira o gosto musical dele (com base nos CDs que ele gravava para a ex). Aos poucos, durante aquela noite, eles vão descobrindo as (várias) coisas que tem em comum. No livro, cada capítulo é narrado do ponto de vista de um deles, o que por si só já é bem interessante, ainda que a história não fosse boa (e é). No filme isso não acontece, mas mesmo assim as características de cada um são bem nítidas a cada cena. E tem a grande vantagem de ter os protagonistas perfeitos para os papéis: Michael Cera (dos ótimos “Juno” e “Superbad – É Hoje”) e Kat Dennings. RECOMENDO (isso mesmo, em letras garrafais)!!!

 

Mudando um pouco de tema (mas nem tanto), outro livro muito bacana que eu acabei de ler é “O Clube do Filme”, de David Gilmour. O livro já tinha chamado a minha atenção nas livrarias, está há algum tempo nas listas de mais vendidos e uma amiga gostou tanto que ia me emprestar, mas eu não agüentei esperar e comprei de uma vez. O autor é crítico de cinema, fez documentários e outros trabalhos na TV, e o livro é basicamente sobre o relacionamento dele com o filho adolescente. Mais especificamente, é sobre um período de três anos em que pai e filho fizeram um acordo bem inusitado: o garoto largaria a escola com o aval do pai (já que estava indo muito mal e não parecia ter qualquer interesse por nada relativo aos estudos), mas se comprometeria a assistir com o pai pelo menos três filmes por semana. Foi um risco muito grande tomado pelo pai, e ele passa quase que o período todo em dúvida se aquilo havia sido ou não uma boa idéia. Mas eles assistem muitos filmes (de todos os tipos, de clássicos a podreiras, de cultsfranceses a blockbustersamericanos) e muitas outras coisas acontecem enquanto isso. Vale muito a pena ler, seja pelo tocante relacionamento do pai com o filho (e com a ex-mulher, a esposa atual, as namoradas do filho), seja como uma série de comentários nunca pedantes ou pretensiosos sobre filmes de toda espécie. E, pra completar, o livro ainda serviu pra me lembrar que eu sou um cinéfilo de araque, já que não vi muitos filmes ditos “fundamentais” (daí alguns dos DVDs que comprei recentemente).

 

Bom, pra não parecer que só falo coisas boas sobre o que leio e assisto, vou cometer uma heresia: preciso confessar que me esforcei muito, mas não consegui ler até o fim o novo livro de Chico Buarque, “Leite Derramado”. OK, ele escreve no ritmo e na linguagem de seu narrador, um velho à beira da morte, mas mesmo assim o livro é repetitivo demais e um tanto chato. Tá, ele é um compositor e músico genial, e os livros anteriores dele (que eu nunca li) devem ser mesmo obras-primas. E eu sei que pode ser uma blasfêmia o que estou dizendo, mas o que eu posso fazer? Achei “Leite Derramado” um porre. Pronto, falei.

 

Até a próxima.

 

P.S.: Já estava quase esquecendo: finalmente terminei de ler o sétimo Harry Potter. Eu li o livro quase inteiro quando ele foi lançado, mas parei faltando umas 90 páginas porque não queria que terminasse. Mas depois de ver os seis filmes em seguida, não deu pra esperar (mesmo porque se eu não lesse logo, alguém me contaria o final). Então criei coragem e li. Pra não me estender muito (e porque já falei muito de HP aqui), só vou dizer três palavras: triste, angustiante e redentor. E o Snape é o cara.

 

P.S.2: Quanto ao filme “Um Jogo de Vida ou Morte” e à série “Coupling”, meus projetos teatrais atuais justificam ambos. “Game, Set & Match”, baseado no primeiro, encerra sua temporada neste domingo; já a peça baseada na segunda estreará em breve.

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